Maricá forma mais de mil profissionais pelo Passaporte Universitário, mas enfrenta desafio de absorver mão-de-obra qualificada

Gabriel Cunha

5/10/20252 min ler

Programa educacional amplia o acesso ao ensino superior, mas mercado local ainda apresenta limitações para empregar os novos graduados.

O programa Passaporte Universitário, da Prefeitura de Maricá, atingiu uma marca expressiva em 2024: já são 1.150 profissionais formados graças à iniciativa que custeia cursos superiores para moradores da cidade. Os dados, fornecidos pela Secretaria da Universidade de Vassouras, apontam que os cursos mais procurados têm sido Pedagogia, com 212 formados, Serviço Social, com 185, e Administração de Empresas, com 176 novos profissionais.

A formação de mão de obra qualificada representa um avanço importante para o município, mas também escancara um desafio crescente: o mercado local ainda não acompanha esse ritmo de qualificação. De acordo com dados do portal EmpresaAqui, Maricá conta com 38.495 empresas ativas. No entanto, 94% delas — o equivalente a 36.073 — são microempresas e microempreendedores individuais (MEIs).

Apenas 2% (794) são empresas de pequeno porte, e 4% (1.628) se enquadram como médias ou grandes. Esse desequilíbrio entre a oferta de profissionais formados e a capacidade do mercado em absorvê-los levanta uma série de preocupações. Especialistas alertam que, sem a criação de mais vagas qualificadas, Maricá pode enfrentar um aumento do desemprego ou subemprego entre os próprios formados.

Muitos desses profissionais acabam buscando alternativas fora de suas áreas ou mesmo fora da cidade, o que acarreta uma migração de talentos e a consequente perda de capital humano. Para o professor Cláudio Barral, no entanto, essa migração é um movimento natural e até saudável para a economia local. "A migração é inevitável. Os bons profissionais naturalmente buscarão mercados melhores", afirma. Segundo ele, isso traz dois efeitos positivos: primeiro, o profissional que trabalha em outra cidade pode transformar Maricá em uma cidade-dormitório, gastando parte do que ganha em seu município de origem e gerando, assim, um ganho econômico para a cidade.

Segundo, a saída de profissionais para outros centros abre espaço para os que permanecem, o que ajuda a equilibrar o mercado local. "O mercado naturalmente se equilibra", explica Barral. Ainda assim, o risco de que a formação superior não se traduza em melhoria de renda para os formados persiste, mantendo muitos na informalidade ou forçando os a abrir pequenos negócios sem estrutura suficiente para crescer.

Sem um fortalecimento das empresas locais para crescerem e contratarem mais, a economia da cidade corre o risco de se manter estagnada, sem gerar empregos de qualidade e com salários compatíveis com o nível de qualificação da nova geração de trabalhadores. Além disso, já se observa um descompasso entre a formação oferecida e a demanda real do mercado.

Enquanto áreas como pedagogia e serviço social seguem formando dezenas de profissionais por ano, setores emergentes da economia local ainda carecem de mão de obra especializada. Para que o avanço educacional se converta em desenvolvimento econômico sólido, será necessário um esforço conjunto entre o poder público, instituições de ensino e setor privado. O desafio de Maricá agora é transformar seus números positivos na educação em oportunidades concretas de trabalho e crescimento para seus cidadãos.

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